Meditação e Cuidados Paliativos
- Doula do Fim

- 7 de out. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 9 de out. de 2024
Nos últimos anos, a meditação tem se destacado como uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida, especialmente em momentos difíceis. Nos cuidados paliativos, que visam proporcionar conforto e bem-estar a pacientes com doenças graves, a meditação pode ser uma aliada incrível. Essa prática milenar pode fazer a diferença na vida de quem enfrenta desafios de saúde. Afinal, tanto a Medicina quanto a Meditação derivam do verbo latino mederi, que significa curar. Será que a combinação dessas disciplinas pode ajudar no bem-estar das pessoas em cuidados paliativos?

O que é Meditação?
A meditação é uma prática na qual uma pessoa utiliza alguma técnica, como mindfulness ou a concentração em um objeto, pensamento ou ação específica, para treinar a atenção e a consciência, alcançando um estado cognitivamente claro, emocionalmente pacífico e estável. A meditação é uma prática que pode ser realizada por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Mas como isso se relaciona com os cuidados paliativos?
Meditação e Cuidados Paliativos: Benefícios para os Pacientes
Um estudo recente que revisou diversas pesquisas realizadas em países como EUA, Alemanha e Singapura entre outros, com a participação de mais de 680 pacientes, principalmente oncológicos, revelou os efeitos positivos da meditação em cuidados paliativos. Os principais benefícios incluem:
Melhora do Bem-Estar: A meditação demonstrou eficácia em aumentar o bem-estar emocional. Pacientes relataram sentir-se mais calmos e equilibrados após as sessões, com práticas de mindfulness ajudando na gestão de sentimentos e promovendo relaxamento.
Redução do Sofrimento: Pacientes que praticaram meditação frequentemente relataram diminuição do sofrimento físico e emocional. A meditação da compaixão, por exemplo, aumentou sentimentos de positividade e reduziu a depressão e a solidão, oferecendo suporte emocional crucial em cuidados paliativos.
Controle do Estresse e Ansiedade: A meditação destacou-se na redução do estresse, demonstrando a capacidade de diminuir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, levando a uma melhora na saúde mental.
Melhoria na Qualidade do Sono: Distúrbios do sono são comuns em pacientes em cuidados paliativos. Técnicas de mindfulness e meditação ajudam a acalmar a mente, facilitando o adormecer e a permanência no sono, o que contribui para uma saúde geral melhor.
Melhores Mecanismos de Enfrentamento: O mindfulness ensina a observar pensamentos e sentimentos sem se sentir sobrecarregado, uma habilidade valiosa para lidar com os desafios emocionais e físicos de doenças graves.
Um estudo focado em pacientes com câncer metastático integrou uma intervenção de mindfulness em um ambiente de cuidados paliativos. Os resultados mostraram que os pacientes que participaram da meditação relataram um controle significativo da dor e uma melhora na qualidade de vida. A prática ajudou a reduzir a ansiedade e a promover um estado de calma, permitindo que os pacientes enfrentassem melhor os desafios da doença.
Em outro ensaio clínico randomizado, pacientes em fase terminal participaram de sessões de meditação guiada por imagens e massagem. Os resultados indicaram que essas intervenções não apenas melhoraram o bem-estar emocional, mas também proporcionaram alívio imediato do sofrimento. Os pacientes relataram uma sensação de paz e conforto, o que é fundamental em momentos tão delicados.
Benefícios da Meditação em Pacientes com Doenças Graves
Além dos benefícios para a saúde mental, a meditação também impacta positivamente a saúde física, especialmente no sistema neurológico. Estudos recentes mostram que a prática meditativa influencia áreas importantes do cérebro, melhorando a capacidade de concentração, foco e memória de curto prazo. Além disso, a meditação pode ser benéfica no tratamento de distúrbios físicos, como asma, epilepsia, fibromialgia, enxaqueca, dor pélvica crônica e síndrome do intestino irritável quando praticada de forma regular. O programa de Redução de Estresse Baseada em Mindfulness (MBSR), desenvolvido pelo Dr. Jon Kabat-Zinn na década de 1970, com o objetivo de ajudar indivíduos a controlar estresse, ansiedade, depressão e dor, tem demonstrado reduzir problemas de sono e níveis de fadiga, trazendo mais qualidade de vida aos praticantes.
Mindfulness e Alívio da Dor
Pesquisadores norte-americanos afirmam que a meditação, especialmente o mindfulness, pode aliviar a dor de uma forma diferente dos medicamentos convencionais. Embora os efeitos possam variar de acordo com o tempo de prática, pesquisas mostram que pessoas que meditam há muito tempo conseguem reduzir a dor de forma eficaz, muitas vezes sem precisar recorrer a medicamentos.
Um estudo que avaliou o uso de relaxamento muscular progressivo junto à meditação baseada em imagens guiadas interativas (MR-IGI) revelou que essa técnica é eficaz no alívio da dor relacionada ao câncer. A IGI combina meditação guiada com elementos interativos, permitindo que os indivíduos se envolvam ativamente com seus pensamentos e emoções. Essa prática é comum em cuidados com o câncer e manejo da dor, oferecendo empoderamento emocional. Um ensaio clínico com 80 mulheres com câncer de mama mostrou que essa terapia complementar trouxe mudanças importantes no sistema imunológico. Outro estudo com 40 pacientes hospitalizados com câncer encontrou uma redução significativa na intensidade da dor em 31% daqueles que utilizaram essas terapias.
O que é Mindfulness?
Mindfulness, ou atenção plena, é uma prática que envolve direcionar a atenção de forma consciente para o momento presente, sem fazer julgamentos. O propósito é observar as sensações, emoções e o ambiente ao redor com clareza, evitando respostas automáticas ou condicionadas.
O que é Meditação Guiada?
A meditação guiada é uma prática que envolve a condução de um instrutor ou um áudio pré-gravado, que orienta os participantes através de visualizações, respirações e reflexões. Essa abordagem é especialmente benéfica para iniciantes, pois oferece um suporte estruturado que facilita a concentração e o relaxamento. Durante a meditação guiada, os praticantes são incentivados a se conectar com suas emoções, liberar tensões e cultivar um estado de paz interior. Além disso, essa técnica pode ser adaptada para atender a diferentes necessidades e é uma ferramenta valiosa em contextos de cuidados paliativos.
Meditação em Cuidados Paliativos: Uma Prática Gentil para Conforto e Paz
A meditação paliativa é uma abordagem especializada de meditação, voltada para oferecer conforto a pessoas com doenças graves ou em situações de fim de vida. O foco está em cultivar paz, aceitação e presença, aliviando desconfortos físicos e emocionais. Adaptável às necessidades individuais, a prática incentiva a concentração no momento presente, reduzindo ansiedade e estresse, e promove a observação de pensamentos e sentimentos sem julgamentos. Além disso, inclui técnicas de consciência corporal, como respiração profunda, para promover relaxamento e apoio emocional.
As doulas do fim da vida frequentemente utilizam a meditação guiada em seu trabalho de oferecer suporte emocional, espiritual e prático a indivíduos em fase terminal e suas famílias. Essa técnica promove o relaxamento e cria um ambiente calmo, ajudando as pessoas a se sentirem em paz em momentos desafiadores. Além disso, a meditação guiada facilita o processamento emocional, permitindo que explorem sentimentos sobre a morte e a perda de forma solidária. Também incentiva a atenção plena, promovendo aceitação e tranquilidade. Essa prática pode beneficiar não apenas os pacientes, mas também suas famílias, ao ajudá-las a lidar com suas emoções e a apoiar seus entes queridos.
Como Praticar Meditação
Se você ou alguém que ama está considerando a meditação como parte do cuidado paliativo, aqui estão algumas dicas práticas:
Escolha um Ambiente Tranquilo: Encontre um local calmo e confortável onde você possa se sentar ou deitar sem interrupções.
Defina um Tempo: Comece com sessões curtas, de 5 a 10 minutos, e aumente gradualmente conforme se sentir mais confortável.
Incorpore a Meditação na Rotina Diária: Reserve um tempo todos os dias para meditar, mesmo que por poucos minutos. A consistência pode aumentar os benefícios.
Participe de Grupos de Apoio: Busque grupos que pratiquem mindfulness ou outras técnicas de meditação.
Considere a Orientação de Especialistas: Um especialista em meditação paliativa ou uma doula do fim da vida pode ajudar a personalizar a prática.
Técnicas de Meditação
Mindfulness: Essa prática começa com a atenção na sua respiração. Perceba a sensação do ar entrando e saindo dos seus pulmões. Isso provoca sensações ou sentimentos em outras partes do seu corpo? Se distrações ou pensamentos surgirem, observe-os e reconheça-os, depois volte a focar na sua respiração. Não se preocupe em "fazer certo"; o importante é estar presente.
Exercícios de Respiração: Estudos mostraram que sessões de respiração consciente de 20 minutos são eficazes na redução da dor, desconforto e ansiedade em comparação com grupos controle. A respiração profunda, que envolve inspirações e expirações lentas de 4 a 5 segundos, ajuda a relaxar o corpo e a mente, reduzindo a ansiedade e o estresse. Durante a respiração, concentre-se na barriga, imaginando-a inflando e desinflando. Outra técnica, a respiração 4-7-8, consiste em inspirar por quatro segundos, segurar por sete e expirar por oito. Para uma abordagem mais estruturada, experimente a respiração em quatro quadrados, alternando entre inspirar, segurar, expirar e segurar, cada vez contando até quatro.
Meditação de Varredura Corporal: Este método envolve a busca mental por áreas tensas no corpo. Começando pelos pés e subindo até a cabeça, os pacientes são guiados a focar em cada parte do corpo, promovendo relaxamento e consciência das sensações físicas.
Meditação Guiada por Imagens: Este método utiliza visualizações para criar um ambiente calmo e pacífico na mente. Os pacientes são conduzidos por um especialista a imaginarem um lugar sereno, conhecido ou imaginário, o que pode ajudar no relaxamento e distrair do desconforto.
Movimento Consciente: Exercícios suaves, como yoga ou tai chi, podem ser adaptados para pacientes em cuidado paliativo. Essas práticas combinam movimento físico com mindfulness, melhorando a flexibilidade, o equilíbrio e a calma mental.
Quais São os Desafios?
Embora a meditação seja reconhecida pela OMS como uma abordagem eficaz para promover qualidade de vida, sua aplicação em pacientes em fase terminal apresenta desafios. A energia, o foco e a atenção necessários para aprender e praticar podem ser limitados. Além disso, a meditação requer tempo para ser aprendida, algo que pacientes incuráveis podem não ter. Um dos caminhos é pedir ajuda e acompanhamento de um especialista em meditação paliativa. A meditação guiada, feita com um profissional, uma gravação ou até com alguém da família, é uma outra opção.
Reflexões Finais
A meditação é uma prática acessível e transformadora, trazendo benefícios significativos para pacientes em cuidados paliativos. Integrar essa prática ao tratamento pode não apenas aliviar sintomas, mas também proporcionar conforto e paz em momentos difíceis. Se você ou alguém que ama está passando por um momento desafiador, considere a meditação como um caminho para encontrar tranquilidade.
Se desejar explorar mais sobre a meditação, busque grupos de apoio ou profissionais que possam guiar essa prática. A conexão com outros que compartilham experiências semelhantes pode ser uma fonte valiosa de apoio. A meditação é mais do que uma técnica; é um meio de cuidar de si mesmo e encontrar um espaço de paz interior, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras. Experimente e descubra como essa prática pode transformar sua vida ou a vida de alguém que você ama.
Fontes:
Importância da Meditação em Cuidados Paliativos - Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
A Meditação Ajuda Pacientes - Blog H9J.
A Meditação e Seus Benefícios ao Sistema Neurológico - ABNEURO.
Mindfulness-Based Stress Reduction for Palliative Care Patients with Advanced Cancer: A Randomized Controlled Trial - Frontiers in Behavioral Neuroscience.
Mindfulness Meditation–Based Pain Relief: A Mechanistic Account - Pain Journal.
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